segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Confinamento é alternativa para engorda de bovinos no período da seca

A implantação de grandes estruturas de confinamento para engorda de bovinos está mudando a realidade da pecuária do Norte de Minas. Nos últimos anos, cinco empreendimentos desta modalidade foram instalados na região. Estes locais são uma alternativa para aqueles pecuaristas que não têm condições de engordar os animais na própria propriedade por falta de pasto, principalmente no período da seca.

“O pecuarista da região fica muito vulnerável em relação ao mercado e às condições climáticas. Com isso, ele corre o risco de não conseguir engordar o boi na propriedade e ter que vender o animal abaixo do peso ideal por um preço muito baixo. Com a existência destas estruturas de confinamento, o produtor passa ter a garantia de engordar o animal para o abate”, explica o coordenador estadual de Bovinocultura da Emater-MG, José Alberto de Ávila Pires.

As estruturas de confinamento do Norte de Minas estão instaladas nos municípios de Pirapora, Buritizeiro, Itacarambi, São João do Ponte e Janaúba. Em média, cada uma delas tem a capacidade para manter cerca de 10 mil animais em regime de engorda ao mesmo tempo. Os confinamentos, geralmente, oferecem três opções ao produtor. A primeira é a venda do animal - com dois anos de idade e cerca de 14 arrobas – para ser engordado pelo confinador, que depois negocia o boi gordo diretamente com o frigorífico.

Outra modalidade é o sistema de “boitel”, uma referência a “hotel do boi”. Uma prática adotada em vários países para a engorda de bovinos em confinamento na forma de prestação de serviço. O produtor paga uma diária para cada animal confinado. Ao final do período de engorda, o pecuarista proprietário dos animais se encarrega de comercializar o boi gordo para o frigorífico de sua escolha.

Existe ainda a opção de parceria entre o dono dos animais e o confinador, que recebe bois magros para engorda. Na hora da venda para o frigorífico, a negociação pode ser feita entre as três partes. Neste sistema de parceria, o produtor lucra com a valorização da arroba do boi após a engorda.

O confinamento 

Geralmente os animais ficam cerca de 100 dias confinados e ganham cinco arrobas neste período. Com o peso de 19 arrobas eles já estão prontos para o abate. Os confinamentos do Norte de Minas têm condições de fazer o trabalho de engorda durante todo o ano. Os animais recebem ração balanceada, volumoso e ração concentrada, misturas de minerais e vitaminas. Eles também passam por um controle para garantir a sanidade.

“O produtor não precisa mais vender os animais para outras partes de Minas Gerais e até para outros estados. Ele pode fazer a terminação dos animais na própria região. Isso ajuda também a recuperar a pecuária de corte no Norte de Minas, desde a atividade de produção de bezerros de corte até o abate, gerando empregos e atraindo novos investimentos”, comenta José Alberto.

Frigorífico em Janaúba

Outro incentivo para os produtores investirem na engorda de animais na região foi a reabertura do frigorífico de Janaúba, pelo grupo Minerva, em setembro do ano passado. O Minerva possui unidades espalhadas pelo país e também no exterior. O grupo exporta para mais de 100 países. A unidade de Janaúba tem capacidade de abate de até 900 animais/dia e potencial para gerar mil empregos diretos.

“Sem um frigorífico de grande porte na região, os animais tinham que viajar cerca de 600 quilômetros para serem abatidos em outra localidade. Agora os produtores já contam com um local para abate na região, que vai abastecer os mercados interno e externo. Mas, para isso, é preciso ter matéria-prima, ou seja, o boi gordo produzido no Norte de Minas”, explica o coordenador da Emater-MG.

A região do Norte de Minas conta com um rebanho bovino de aproximadamente 5 milhões de cabeças.

Encontro sobre confinamento

No dia 12 de fevereiro, foi promovido um encontro técnico em Janaúba, Norte de Minas, para discutir a prática do confinamento na região, dentro destes sistemas de parceria. O evento, que contou com o apoio da Emater-MG, foi promovido pelo grupo Minerva e a Agropeva, uma das empresas confinadoras da região. 


Fonte: Emater/MG


Projeto avalia sustentabilidade da agricultura em solos no bioma Cerrado

Uma equipe de pesquisadores da Embrapa viajou pelo norte de Minas Gerais, Tocantins e Mato Grosso, durante abril de 2013 e agosto a setembro de 2014, a fim de avaliar a sustentabilidade da agricultura intensiva, em solos de textura leve, no bioma Cerrado. 

O projeto, liderado pela Embrapa Solos (Rio de Janeiro, RJ), apresenta objetivos específicos como subsidiar o planejamento de uso e o manejo sustentável dos solos de textura leve; avaliar o impacto de sistemas produtivos no solo e na água nas áreas de estudo; transferir métodos e técnicas de levantamento de solos a técnicos das regiões estudadas e também transferir aos produtores as boas práticas agrícolas para solos de textura leve.

Simulador de chuva                                        Foto:Hiram Carvalho
Um dos planos de ação aborda os atributos físicos do solo, inclusive com análise de infiltração de água feita com chuva simulada. Essas atividades são executadas na Chapada Gaúcha (Norte de Minas), Guaraí (Tocantins) e Campo Verde (Mato Grosso).

De acordo com o pesquisador Manoel Dornelas, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), para isso foi usado um simulador de chuvas desenvolvido por ele, que permite avaliar a taxa constante de infiltração de água no solo, a formação de crosta pelo impacto das gotas de chuva, o tempo de empoçamento da água na superfície, bem como perdas por erosão. O equipamento também permite o controle da intensidade de chuva.

A produção principal da Chapada Gaúcha é a semente de braquiária, como mostra a foto da máquina de colheita e beneficiamento da semente no campo de uma das fazendas.

O que parece ser fumaça escura é na verdade a terra sendo soprada sobre um sistema de peneiras para separar as sementes. A máquina funciona com um complexo de vassouras rotativas que varrem as sementes e a terra para dentro da máquina, explica o pesquisador.
O que chamou muito a atenção foi a produção de massa seca de braquiária, em torno de 20 toneladas por hectare, a qual é simplesmente queimada. A região não tem tradição de engorda de bois e segundo os proprietários, eles não tem o que fazer com tanto capim, diz Dornelas.

Alguns estão tentado deixar o capim espalhado sobre a terra por alguns anos, na tentativa de aumentar o teor de matéria orgânica do solo (veja foto). O que se nota nos testes de infiltração é que o material em decomposição acaba criando uma camada de baixa permeabilidade na superfície do solo. Para se ter ideia, na área de plantio direto com soja obteve-se uma taxa constante de infiltração de 13,8mm/h, enquanto com capim em decomposição a taxa foi de 1,5mm/h, explica o pesquisador.




Tecnologia permite usar água com teor de sal

Viver e produzir alimentos sem água é impossível. Mas, o que fazer quando a única fonte disponível tem altos teores de sal?

Sabe-se que o uso inadequado das águas salinas causa grandes prejuízos ao meio ambiente e à agricultura, provocando processos de salinização do solo. No entanto, estudos desenvolvidos em várias regiões do mundo indicam que ela não é, necessariamente, uma vilã. Pelo contrário, pode ser uma saída para regiões que não dispõem de outra alternativa.
É o caso de muitas localidades do Semiárido brasileiro, onde há um elevado potencial de águas subterrâneas, mas que, em sua maioria, são salinas ou salobras. E é de poços perfurados nessas condições que um grande número de famílias tira a água para beber, além de utilizá-la em atividades agrícolas e na criação de animais. Para que fique própria para o consumo humano, essa água passa por um processo de dessalinização, por meio de aparelhos com filtros bastante potentes.

"O uso dos dessalinizadores tem sido uma alternativa em todo o mundo para se obter água de qualidade superior, visando a atender à demanda de populações, especialmente em regiões com elevada escassez hídrica", observa Gherman Araújo, pesquisador da Embrapa Semiárido. No entanto, ele alerta que esse processo, além de permitir a obtenção de água potável, produz também um rejeito com concentração ainda mais alta de sais, que podem trazer prejuízos para o solo de forma muito rápida.

Visando a proporcionar o uso desse rejeito com o menor impacto ambiental possível, a Embrapa desenvolveu uma tecnologia que une a criação de peixes com a produção de plantas. Nesse sistema, o rejeito da dessalinização é depositado em dois grandes tanques de 330m³, utilizados de forma comunitária para a criação de tilápias que se desenvolvem bem nessas condições. Um terceiro tanque armazena o concentrado que já passou pelos tanques de criação. Acrescida da matéria orgânica produzida pelos peixes, a água contida nesse tanque é utilizada para irrigar plantas resistentes ou tolerantes à salinidade, como a erva-sal, destinada à alimentação de animais.

De acordo com Gherman Araújo, em um ano é possível produzir cerca de 650 kg de peixe por tanque, e aproximadamente dez toneladas de forragem em apenas um hectare. "Assim, além de fornecer água potável para a comunidade, o sistema também gera novas alternativas de produção e aumento da renda familiar, tudo isto com a garantia da preservação do meio ambiente", destaca.

Esse sistema de uso integrado do rejeito do dessalinizador tem sido utilizado como a principal tecnologia do Programa Água Doce, do Governo Federal. Lançado em 2004, ele vem sendo implantado em diversas comunidades rurais do Semiárido, beneficiando cerca de 100 mil pessoas em 154 localidades do Nordeste.

Além desse sistema, trabalhos de pesquisa têm buscado oferecer outras alternativas para o uso do rejeito da dessalinização. Uma delas é a flexibilização do sistema comunitário, considerado de grande porte, adaptando-o para um sistema de produção familiar e poços de menores vazões, com a utilização de pequenos tanques de criação de peixes, com cerca de cinco mil litros. Outra ainda é a prospecção e a avaliação de novas cultivares de plantas alimentares e forrageiras e espécies de peixes resistentes ou tolerantes à salinidade que poderão ser incorporadas ao sistema.

O potencial de utilização das águas salinas diretamente nas atividades produtivas também vem sendo avaliado, como o uso para a dessedentação animal ou para pequenas irrigações. "Nós entendemos que a água salina é uma alternativa de aumento da eficiência dos sistemas produtivos na região semiárida. Ela não é um problema, é uma alternativa de solução para o incremento da produção familiar", afirma Gherman Araújo.

Ele ressalta, no entanto, que esta água precisa ser usada de forma sazonal e estratégica. A intenção, segundo ele, é explorar o ciclo das chuvas e fazer uma complementação com as águas salinas. "É preciso usá-las com conhecimentos técnicos, de forma racional e respeitando as características do solo, água, clima, plantas e animais", ressalta.


Fonte: Embrapa