Como se já não bastasse o grande período de
estiagem que assola a região, o uso indiscriminado da água por fazendeiros e
empresários está acabando com a água do Rio Gorutuba e deixando famílias que
mais precisam sem água. Além do depoimento chocante das famílias agricultoras,
os registros fotográficos comprovam a situação crítica. São inúmeras pessoas
que estão sendo prejudicadas pelo aumento significativo e abusivo
principalmente do plantio de bananais. É só percorrer o rio para ter uma noção
da gravidade.
Irrigação, barragens, bombas d’água são algumas das
formas de uso indiscriminado que estão comprometendo a saúde do rio. A
contradição se dá pela presença da Barragem do Bico da Pedra que foi construída
com um dos objetivos principais para perenizar o rio, mas numa época como essa
de grande necessidade, esse investimento público tem servido para beneficiar os
mais ricos e empresários do ramo que desfrutam com abundancia do bem natural.
A seca não é novidade no Norte de Minas, mas o
contraditório é ver as grandes áreas verdes no perímetro de irrigação e em
algumas grandes fazendas, e ao mesmo tempo sofrimento das famílias que estão a
beira do maior rio da região. Nos últimos anos, o plantio de bananeiras
aumentou significativamente. Segundo informações dos vizinhos, um único
empresário possui cerca de 6 bombas puxando água do rio para molhar os mais de
100 hectares de banana. As famílias do Assentamento União nem sabem mais quem
recorrer, pois tem água na barragem, no perímetro de irrigação e em outras
fazendas, só falta é ser melhor distribuída, afirmam os assentados. Localizado
às margens do rio Gorutuba, no município de Porteirinha, as famílias assentadas
não tem nenhuma opção. Estão tendo água para beber graças a carros pipas do
município vizinho de Pai Pedro, pois Porteirinha não disponibilizou.
Inclusive, o prefeito da cidade é um dos fazendeiros que possuem
barragem no rio que impede as águas de seguir seu leito.
As lideranças do Assentamento já recorreram a
diversos órgãos e nenhuma resposta foi dada. O Ministério Público de
Janaúba, os encaminhou para Porteirinha e no município, o presidente do Codema
e funcionário da Prefeitura Municipal afirmou que não adianta nada, pois se
trata de lutar contra os grandes, e que os assentados deveriam procurar
assistência junto ao Igam. Porém, “se as famílias não tem nem água, quanto mais
tempo e dinheiro para irem fazer a denuncia em Montes Claros”, sede do
Instituto Mineiro, afirma uma das lideranças.
“Pode até
colocar fogo dentro do rio Gorutuba que não tem uma gota de água nem para
remédio”, afirma outra liderança do Assentamento Califórnia, que fica
no Quilombo do Gorutuba no município de Pai Pedro.
A tradicional festa em Jacaré Grande, no município
de Janaúba também ficou prejudicada. Como era de costume há centenas de anos,
quando o calor aperta no dia 07 de setembro, muitos participantes da festa iam
para o Rio Gorutuba banhar. Nesse ano, o rio que é um importante sub-afluente
do Rio São Francisco, não tinha nem uma gota de água.
Essa contradição já está causando revolta também
nas redes sociais. Diversas fotos do rio em situação de calamidade estão sendo
postadas pelos internautas para denunciar a sociedade esse descaso com o meio
ambiente e com as famílias agricultoras que mais precisam. O fato da barragem e
desses projetos serem criados com recursos públicos levanta ainda mais a
discussão pois pelo que se vê, os maiores beneficiados tem sido os grandes
empresários e fazendeiros. A população que sofre, não tem a quem recorrer e
entrega a Deus que mande chuva, já que a água que tem armazenada com recurso
público, eles não tem direito.
Fonte: Asa Minas
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