Agricultores passam a contar com um inseticida biológico que tem como
princípio ativo um vírus de grande eficácia para controle da
lagarta-do-cartucho, principal praga do milho, que acomete também outras
culturas, como soja, sorgo, algodão e hortaliças. O primeiro inseticida à base
de Baculovirus spodoptera, o CartuchoVIT,
será lançado no próximo dia 12 em Uberaba (MG), como resultado da parceria
entre a Embrapa Milho e Sorgo (MG) e o Grupo Vitae Rural.
“Os baculovírus são agentes de controle biológico que não causam danos à
saúde dos aplicadores, não matam inimigos naturais das pragas, não contaminam o
meio ambiente, nem deixam resíduos nos produtos a serem vendidos nas gôndolas
dos supermercados”, explica o pesquisador da Embrapa Fernando Valicente.
Testes de biossegurança comprovaram que esses vírus são inofensivos a
microrganismos, plantas, vertebrados e outros invertebrados que não sejam
insetos. O Baculovirus spodoptera apresenta
especificidade em relação aos insetos-alvo. Infecta e causa a morte da
lagarta-do-cartucho (Spodoptera fugiperda) e da lagarta Spodoptera cosmioides.
O pesquisador ressalta que a segurança do inseticida à base de
baculovírus, aliada à facilidade de manuseio, faz do produto um dos melhores agentes
de controle biológico. Uma vantagem do CartuchoVIT é o pequeno número de
aplicações necessárias, em geral duas, o que gera menor custo com máquinas
agrícolas e com mão de obra. Além disso, podem ser usados os mesmos
equipamentos de aplicação de produtos químicos, fator que contribui ainda mais
para a redução de despesas dos produtores.
As avaliações de campo demonstram que o bioinseticida apresenta taxa de
mortalidade de 75% a 95% das lagartas-do-cartucho com até cinco dias de idade
(até quase 1 cm de comprimento). Valicente explica que não se trata de um
inseticida de contato. “A lagarta tem que raspar um pouco a folha que recebeu a
aplicação do produto. Ela é infectada pelo vírus, diminui sua alimentação
drasticamente e morre em cinco dias.”
Para garantir a eficácia do bioinseticida, o produtor deve seguir as
orientações de uso. “É importante cuidar do preparo e aplicação, respeitar a
vazão, utilizar o bico correto, dar boa cobertura e entender o melhor
posicionamento do produto, ou seja, a data em que se aplica”, comenta o
pesquisador.
Recomenda-se a primeira aplicação de dez a 12 dias após a germinação da
planta, e a segunda de sete a 12 depois, de acordo com o monitoramento de
raspagem das folhas e o histórico da região. Dessa forma, é possível evitar a
sobreposição de gerações de lagartas.
O sócio-proprietário do Grupo Vitae Rural, Paulo Bittar, ressalta a
importância de um produto limpo e eficaz para o controle da
lagarta-do-cartucho. “A lagarta do cartucho está no Brasil todo. Existe
necessidade de controle. Tanto os inseticidas químicos como a tecnologia das
sementes transgênicas não oferecem um controle suficiente. Por isso, há
interesse pelo Baculovirus spodoptera e o mercado será
receptivo ao produto. Acredito que o baculovírus será a principal ferramenta de
controle da lagarta-do-cartucho nas culturas em idades iniciais, após
emergência das plantas”.
O CartuchoVIT tem prazo de validade de um ano em prateleira e é o
primeiro produto comercial registrado à base de Baculovirus
spodoptera.
Processo de produção
O processo de desenvolvimento do bioinseticida foi longo e envolveu muitas
pesquisas, conforme explica Fernando Valicente. “Foram feitos, nos anos de 1980
e 1990, levantamentos de lagartas, ou seja, você vai ao campo, coleta lagartas,
observa em laboratório e aí detecta lagartas doentes. As lagartas com sintomas
típicos de vírus são trabalhadas. Você identifica o agente causador da doença e
faz a caracterização dos vírus com experimentos ao longo do tempo. Analisa a
eficiência de cada isolado de vírus e, após detectar os melhores isolados, é
preciso testar fatores importantes: temperatura de incubação da lagarta depois
de infectada, idade do inseto próprio para infecção e concentração de vírus a
ser usada. Avaliam-se, então, os resultados para poder orientar a produção.”
Após todos os estudos, é possível obter parâmetros para a produção do
bioinseticida. Lagartas sadias criadas em laboratório são usadas como
hospedeiras para multiplicar os vírus e dar origem ao produto. “Você pega as
lagartas mortas, processa, tritura, seca o material e coloca um agente inerte
(pó básico)”, explica Valicente.
Para utilizar o
CartuchoVIT, o produtor dilui o pó em água e aplica no campo. A fim de garantir
a eficácia, é preciso seguir as orientações técnicas.
Informações para aplicação
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Deve ser usado na quantidade de 50 gramas por
hectare, fazendo-se uma calda com, no máximo,150 litros por hectare.
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A calda deve apresentar pH entre 5 e 7.
Importante: pH alcalino destrói o baculovírus, sendo fundamental medir o pH da
água antes e após a preparação da calda.
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A aplicação deve ocorrer após as 16 horas. A luz
do sol destrói o baculovírus.
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A primeira aplicação deve ser feita entre 10 e 12
dias após a emergência da planta. A segunda aplicação deve ocorrer uma semana
após a primeira, dependendo do histórico da região.
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Em caso de chuva forte, reaplicar o produto.
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A conservação e a guarda do produto podem ser
feitas em temperatura ambiente, desde que em local fresco e arejado.
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Deve-se usar espalhante adesivo com o bico do tipo
leque.
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Reaplicar em caso de reinfestação.
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Não aplicar em milho com mais de 40-50 dias.
Lagartas pequenas não vão ingerir o baculovírus porque não conseguem raspar
folhas muito duras.
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Fonte: Embrapa
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