sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Cultivo de mandacaru garante forragem para os rebanhos nos períodos mais críticos de seca

Na seca, nos momentos mais graves da falta de água e de alimentos para os rebanhos, é inevitável ao pequeno agricultor do semiárido, de poucos recursos técnicos e financeiros, adentrar a caatinga em busca de uma das poucas plantas a se conservar verde: o mandacaru. A espécie, que tem folhas na forma de espinhos, é quase sempre a única fonte de comida disponível na vegetação nativa para os animais.
 
Por estas características de resistência às altas temperaturas e às chuvas irregulares da região, que o técnico Nilton de Brito Cavalcante, da Embrapa Semiárido, recomenda aos agricultores o cultivo dessa cactácea nas suas propriedades, a exemplo do que fazem com a palma, os capins ou o milho.
 
Há dez anos, ele avalia o plantio de mandacaru em uma área experimental do centro de pesquisa. Para ele, os resultados são “animadores”, a começar pela produção.
 
Estratégia – No primeiro ano de plantio, com espaçamento de 1m x 1,5 m – o que equivale a mais de 6.660 plantas/ha, o agricultor consegue colher cerca de 30 ton.ha-¹ com o corte dos brotos que nascem no período. Convertida para massa seca, que é a medida de referência para indicar o impacto sobre o ganho de peso dos animais, essa quantidade equivale a 5,1 ton.ha-¹.  No décimo ano do plantio, a produção pode alcançar 285,17 ton.ha-¹ de massa verde e 48,47 ton.ha-¹ de matéria seca. 
 
Trata-se de volume de alimento muito bom, que fica disponível para ser ofertado aos animais quando a seca alcança o seu pico de maior intensidade na região, revela Nilton de Brito. Segundo ele, trata-se de uma planta “excelente” para o pecuarista formar uma reserva forrageira estratégica na sua propriedade. No semiárido, de maneira geral, este papel cabe a outra cactácea já muito difundida que é a palma.
 
Contudo, o mandacaru tem evidentes vantagens: possui maior teor de proteína, resiste melhor à falta de chuvas e o primeiro corte acontece no primeiro ano.  

O plantio em áreas cercadas é uma alternativa de exploração e que aumenta a capacidade de suporte das propriedades. Além disso, é um modo de substituir o extrativismo da espécie durante a estiagem, por um aproveitamento mais sustentável. O intenso corte que costuma acontecer nesses períodos tem levado à diminuição acentuada de pés de mandacarus na caatinga.
 
Manejo – Do tempo que realiza testes com a espécie em uma área de 4 ha da Embrapa Semiárido, Nilton chegou à conclusão que o plantio e manejo do mandacaru são simples. Fazer muda, por exemplo, é muito fácil: basta cortar um pedaço de 20 a 30 cm dos cladódios ou galhos, deixar secar durante dois a cinco dias na sombra e, então, pôr em uma cova com profundidade de 15 a 20 cm, adubada com esterco de caprinos ou bovinos.
 
O plantio pode ser feito antes das primeiras trovoadas no semiárido. Contudo, se acontecer durante o período de chuva, o cultivo deve ser em terreno bem drenado. Se houver encharcamento, é possível a morte de grande quantidade de mudas, alerta o técnico da Embrapa. Durante o crescimento o agricultor vai precisar apenas roçar o local do plantio uma vez por ano.

Outra informação importante para garantir a sobrevivência do mandacaru é não cortar a planta no tronco principal. De acordo com as avaliações na área experimental, Nilton afirma que isto pode representar a morte da planta. Por outro lado, se são cortados apenas os galhos, a vida útil da planta aumenta e ela fica produtiva por muito mais tempo. Para ele, não há dúvida que o mandacaru é uma alternativa forrageira interessante que os criadores do semiárido podem ter nas suas propriedades.

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